Desde que a poeira baixou após as eleições nos EUA, as tarifas de exportação são uma das questões que mais preocupam muitas pessoas do setor têxtil.
Segundo a Bloomberg News, membros da equipe do novo presidente dos EUA disseram recentemente, em entrevista por telefone, que imporiam as mesmas tarifas que a China a quaisquer mercadorias que passassem pelo porto de Qiankai.
O Porto de Qiankai, um nome desconhecido para a maioria das pessoas do setor têxtil, gera tanta controvérsia? Que tipo de oportunidades de negócios existem no mercado têxtil por trás desse porto?
Localizado na costa do Pacífico, no oeste do Peru, a cerca de 80 quilômetros da capital Lima, o porto é um porto natural de águas profundas com uma profundidade máxima de 17,8 metros e pode receber navios porta-contêineres de grande porte.
O Porto de Qiankai é um dos projetos emblemáticos da Iniciativa Cinturão e Rota na América Latina. É controlado e desenvolvido por empresas chinesas. A primeira fase do projeto teve início em 2021. Após quase três anos de construção, o Porto de Qiankai começou a ganhar forma, incluindo quatro cais de atracação, com uma profundidade máxima de 17,8 metros, e capacidade para atracar navios porta-contêineres supergrandes de 18.000 TEUs. A capacidade de movimentação projetada é de 1 milhão de TEUs por ano em um futuro próximo e de 1,5 milhão de TEUs a longo prazo.
De acordo com o plano, após a conclusão, o porto de Qiankai se tornará um importante centro portuário na América Latina e a “porta de entrada da América do Sul para a Ásia”.
A operação do porto de Chankai reduzirá significativamente o tempo de transporte de mercadorias exportadas da América do Sul para o mercado asiático, de 35 para 25 dias, diminuindo os custos logísticos. Espera-se que o porto gere uma receita anual de US$ 4,5 bilhões para o Peru e crie mais de 8.000 empregos diretos.
O Peru possui um grande mercado têxtil.
Para o Peru e os países vizinhos da América do Sul, a importância do novo porto de águas profundas no Pacífico reside na redução da dependência dos portos do México ou da Califórnia e na exportação direta de mercadorias para os países da região Ásia-Pacífico.
Nos últimos anos, as exportações da China para o Peru cresceram rapidamente.
Nos primeiros 10 meses deste ano, as importações e exportações da China para o Peru atingiram 254,69 bilhões de yuans, um aumento de 16,8% (ver abaixo). Dentre esses produtos, as exportações de automóveis e peças de reposição, telefones celulares, computadores e eletrodomésticos aumentaram 8,7%, 29,1%, 29,3% e 34,7%, respectivamente. No mesmo período, as exportações de produtos Loumi para o Peru somaram 16,5 bilhões de yuans, um aumento de 8,3%, representando um crescimento de 20,5%. Dentre esses produtos, as exportações de têxteis e vestuário e de produtos plásticos aumentaram 9,1% e 14,3%, respectivamente.
O Peru é rico em minério de cobre, minério de lítio e outros recursos minerais, e existe uma forte complementaridade com a indústria manufatureira da China. O estabelecimento do porto de Qiankai pode explorar melhor essa vantagem complementar, trazendo mais renda para a região, expandindo o nível econômico e o poder de consumo local, além de abrir mais oportunidades de exportação para os produtos manufaturados da China, criando uma situação vantajosa para ambos os lados.
Alimentação, vestuário, habitação e transporte são necessidades básicas da população, e o desenvolvimento econômico local leva, naturalmente, os moradores a desejarem roupas de alta qualidade. Assim, a construção do porto de Qiankai representa uma grande oportunidade para a indústria têxtil chinesa.
O fascínio do mercado sul-americano
A competição no mercado têxtil atual atingiu níveis altíssimos. Além do rápido crescimento da capacidade produtiva, outro fator é a desaceleração do crescimento econômico global, que limita o aumento da demanda. Com a crescente competitividade no mercado de ações, a abertura de mercados emergentes torna-se ainda mais importante.
Nos últimos anos, a construção conjunta da iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” tem alcançado resultados cada vez melhores. No setor têxtil, as exportações anuais da China para o Sudeste Asiático, o Oriente Médio e outros mercados emergentes têm apresentado rápido crescimento, e a América do Sul pode ser o próximo “oceano azul”.
A América do Sul estende-se por cerca de 7.500 quilômetros de norte a sul, abrange uma área de 17,97 milhões de quilômetros quadrados, inclui 12 países e uma região, tem uma população total de 442 milhões de habitantes, possui ricos recursos naturais e apresenta muitas complementaridades com a indústria e a demanda chinesas. Por exemplo, este ano, a China importou uma grande quantidade de carne bovina da Argentina, enriquecendo significativamente a mesa dos residentes, e também importa anualmente grandes quantidades de soja e minério de ferro do Brasil, além de fornecer uma grande quantidade de produtos industriais para a região. No passado, essas transações exigiam a passagem pelo Canal do Panamá, o que era demorado e dispendioso. Com a construção do Porto de Qiankai, o processo de integração do tráfego neste mercado também está se acelerando.
O governo brasileiro anunciou a intenção de investir cerca de 4,5 bilhões de reais (aproximadamente US$ 776 milhões) para promover o Plano de Integração Sul-Americana, verba que será destinada ao desenvolvimento da parte nacional do projeto ferroviário transoceânico. O plano prioriza projetos de transporte rodoviário e hidroviário no curto prazo, mas inclui projetos ferroviários no longo prazo, e o Brasil afirma necessitar de parcerias para a construção de novas ferrovias. Atualmente, o Brasil pode acessar o Peru por via marítima e exportar pelo porto de Ciancay. A Ferrovia Liangyang conecta os oceanos Pacífico e Atlântico, com uma extensão total de cerca de 6.500 quilômetros e um investimento inicial estimado em cerca de US$ 80 bilhões. A linha parte do porto peruano de Ciancay, segue para nordeste através do Peru, Bolívia e Brasil, conecta-se com a ferrovia leste-oeste planejada no Brasil e termina a leste em Puerto Íleos, na costa atlântica.
Uma vez inaugurada a linha férrea, no futuro, o vasto mercado da América do Sul poderá irradiar-se em torno do centro do Porto de Chankai, abrindo as portas para os têxteis chineses, e a economia local também poderá se desenvolver impulsionada por esse vento leste, criando, em última análise, uma situação vantajosa para todos.
Data da publicação: 09/12/2024

